Rayane e Bill: “uma família pela restauração de carros clássicos”

Luciano Katruski
7 min readJul 5, 2021

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Foto: Luciano Katruski / Curitiba Car City

Você liga a tevê e vai direto ao “Discovery Turbo”, para acompanhar as peripécias dos super mecânicos texanos ou de Connecticut restaurando ou transformando carros de todas as idades. Muito dinheiro e, principalmente, muitas peças. De todos os tipos, originais ou cópias muito bem feitas. Verdadeiro sonho de consumo do apaixonado por carros.

Agora, transporte o seu olhar para o Brasil. Mais exatamente para Curitiba, para uma oficina muito particular no Bom Retiro, conduzida por um casal de apaixonados por motores. Bill e Rayane Azevedo, que, nos últimos anos, restauraram cerca de 15 carros, entre Galaxies, F-100 e Ford 32, para ficar em alguns deles. Quais suas maiores dificuldades? Quais suas maiores conquistas? É isso que vamos descobrir agora, nesta reportagem especial.

Quem, em sã consciência, restaura carros antigos no Brasil?

É uma roubada. E, diga-se de passagem,os brasileiros amam. Quem gosta de carro sempre admira quando passa um antigo em marcha lenta mostrando a agressividade do motor V8. Mas, por trás da pintura metálica, não imagina a história que aquele carro com os para-choques cromados carrega. Muitos viveram tempos gloriosos, mas acabaram ultrapassados por veículos recentes, que oferecem mais tecnologia e comodidade e que acabaram se tornando uma opção de locomoção urbana.Bem diferente do que representava o automóvel nos velhos tempos. Aos poucos, muitas das “velhas joias” caíram no esquecimento, para renascer pelas mãos dos artistas da restauração.

Atualmente apaixonados estão trazendo de volta os brilhos desses carros, muitos deles já sonharam ou tiveram um na família.Assim acontece com muitos clássicos nacionais como o Dart, Maverick e Opala por exemplo. “A grande maioria das pessoas que procura veículos antigos já vivenciaram momentos com esses carros no passado”, garante, em uníssono, o casal Rayane e Bill.

Bill conta que seu gosto por carros vem de família.Na infância, aprendeu muitas coisas sobre mecânica na oficina do pai. Os primeiros carros que passaram por sua própria garagem foram um Fusca e um Passat. “Quando comprava esses carros, sempre tinha a intenção de melhorá-los.Mas, quando o projeto tomava forma, alguém acabava comprando e, assim, começava um novo projeto.Isso se tornou um ciclo”, explica Bill.

Desde que começou com o hobby de trabalhar na garagem, diversos carros “machucados pelo tempo” retornaram à vida, entre eles uma picape Ford F-1 1952.

Acervo Pessoal

Todo entusiasta sabe que, entre nós, existe uma grande limitação de peças para veículos antigos e importados. Muitas delas, aliás, são caras por conta da raridade e da falta de fabricantes de similares. O “Fordinho” da década de 1930 que atualmente está em processo de restauro, na verdade, é uma Ford Ranger 1997 que acabou se tornando doadora do chassi e do motor. “Acaba custando muito caro importar peças originais. Muitas delas, por ser antigas, apresentam desgaste. Daí, a melhor maneira de lidar acaba sendo a adaptação. Os carros mais usados como doadores de peças para Hot Rods são os nacionais de tração traseira, como Opala e o Omega”, explica.

Acervo pessoal

Uma fonte de carros — Bill comenta que no Uruguai existe uma variedade de veículos antigos em condições aceitáveis e com preços bem atrativos. Entretanto, o grande impasse é que muitos desses carros não têm mais a documentação para rodar e emitir uma segunda via para trazer para o Brasil acaba sendo muito custoso.

Por lei, a importação de veículos usados para o Brasil só é permitida para modelos vendidos, no mínimo, há trinta anos. Ou seja: se você quer comprar um modelo 1990 precisará esperar até o ano que vem, quando a “caranga” completa três décadas de existência. Se o carro é de 1989 ou antes, tranquilo.

Ou seja: a burocracia desmotiva sonhos motorizados. “No país vizinho, é possível encontrar diversos anúncios tentadores que são repassados por grupos de venda. Muitos deles continuam rodando com peças originais de época, mas a grande maioria não tem documentos”, lamenta Bill.

Quanto tempo leva uma restauração? — É sempre satisfatório ver o resultado de uma boa restauração, mas o tempo de conclusão de um projeto é imprevisível. O trabalho na garagem é realizado por Bill nos fins de semana e tudo depende do que é “achado” no carro e precisa ser arrumado. “Também depende do estado do carro e das condições financeiras do cliente. A parte mais cara de uma restauração é o interior. Se o dono quiser chegar próximo da originalidade, as peças e o serviço pode custar mais de R$ 10 mil”, explica Rayane. Outro “entrave ao sonho” são mecânicos de má qualidade, como observa Bill. “Algumas pessoas têm problemas com esses profissionais, que acabam recebendo e não fazem o serviço como deveria. O sonho, enfim, vira pesadelo”.

Rayanne traz uma caixa com fotos dos projetos que passaram pela garagem de restauração. Dos projetos mais ousados, o casal lembra que foram um Ford Custom e uma picape Ford F-100, construídos do zero. Bill inclusive tem uma miniatura de uma F-100 semelhante, que guarda de recordação do projeto.

O “revival” do motor é, segundo o casal de restauradores, uma das partes mais emocionantes do trabalho. Ele confirma que todo o esforço trouxe resultados. “O momento mais memorável foi de quando presenciamos a primeira partida do Fordinho.Comemoramos a semana toda”, brincam.

Os xodós da família — Um deles é o Chevrolet Caravan 1986 com transmissão automática, configuração raríssima do modelo. A versão perua do Opala é um dos carros mais característicos do mercado nacional dos anos 1970 e durou até o começo da década de 1990.“Por incrível que pareça,esse carro acaba se destacando mais dos outros que carros que também são relíquias.Esse Caravan pertenceu à minha mãe, que foi a segunda dona”, conta Bill.“Esse carro guarda muitas lembranças da família.Nossa filha, que hoje tem 15 anos,fez várias fotos nesse carro desde que era pequena”, lembra Rayane.

Bill lembra que precisou vender o Caravan, pois passou por dificuldades financeiras e ficou inviável usar um carro 6 cilindros. Além disso, enfrentou a morte da mãe. O carro acabou vendido por R$ 4 mil e o valor foi dividido com a família. Anos depois, uma boa surpresa e o regresso para casa. Há três anos, Bill encontrou o veículo novamente por acaso em um classificado online. “Quando vi, tive certeza de que era o carro da minha mãe. Mostrei pra Rayane e ligamos para confirmar”, lembra Bill. Compra feita!

O casal lembra que pegou um ônibus para Cascavel, onde o carro estava.Bill disse para o vendedor que já teve um Caravan, mas não contou que aquele era o antigo carro da família. “Se constasse a história, ele não abaixaria o preço”, brinca Rayane.

Bill conta que o vendedor insistiu que dirigisse o carro, mas, segundo ele, não seria necessário, pois ele já conhecia o carro. “Ele foi completamente honesto comigo. Fechamos negócio e num feriado de 7 de setembro pegamos 9 horas de estrada sem problema algum”, diz Bill.

O carro ainda mantém o seu visual original e o interior completamente conservado após 30 anos. Mas traz algumas “maldades” sob o capô, como os 220 cv estimados por Bil para o motor. “É comum que algumas pessoas se interessem pelo carro. Nos encontros, deixo o recibo de compra e venda rasgado exposto no vidro do carro”, comenta Bill.

O xodó da Rayane é uma Ford F-100 equipada com o motor V8, carro totalmente original com duas cores na carroceria o vermelho Mustang e detalhes em branco característico da versão V8.

Matéria original:

https://curitibacity.car.blog/2019/05/21/rayane-e-bill-uma-familia-pela-restauracao-de-carros-classicos/

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Luciano Katruski
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23 anos | Jornalista de Formação | Apaixonado por carros

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